Um boato é, na verdade, algo extremamente simples de ser criado. Basta apenas juntar uma história com teor suficientemente interessante de ser transmitida a pessoas sem muito o que fazer com as suas próprias vidas, cuja diversão é concentrarem-se sobre a dos outros. E temos a receita perfeita para um bom boato!

Em qualquer processo de transmissão de informação entre várias pessoas, há sempre dados que são perdidos pelo meio. No processo de transmissão de um boato, estes dados são descaradamente substituídos por outros, à medida da necessidade do interlocutor e da importância para a história, mesmo que não sejam propriamente concordantes com a realidade.

Experimente! Conte a alguém o relato de um acidente de trânsito, por exemplo, e depois peça a essa pessoa que passe esta história a outra e assim sucessivamente. A partir da 3º pessoa, já haverá certamente informação trocada, perdida ou descaradamente substituída.

Imaginemos: Neste acidente estiveram envolvidas 8 pessoas e 3 carros. Ocorreu por volta das 15h, próximo a saída do Parque das Nações da Segunda Circular. Houve 3 feridos ligeiros e 1 grave, e felizmente, nenhum morto. Compareceram ao local, cerca de uma hora depois, 4 carros da Brigada de Transito da GNR e 2 ambulâncias, que trataram dos feridos ligeiros no local e levaram para o hospital mais próximo o ferido grave. Até ao momento não se apuraram os culpados, tampouco conhece-se as causas do acidente.

Quase que ponho a minha mão no fogo em que na 3ª pessoa que chegar esta história, o número de pessoas envolvidas sobe para “aproximadamente 10”, o número de carros envolvidos é substituído pelo número de carros da Brigada da GNR e o número de feridos pelo número de ambulâncias. Na versão transmitida à 4º pessoa, provavelmente já se falará que o acidente foi à uma da tarde e que a polícia e a ambulância demoraram mais de 3 horas a chegar ao local, razão essa que levou à morte do ferido grave. A partir da 5ª pessoa, um simples incidente numa das saídas da Segunda Circular já se transformou num mega acidente às portas da Lisboa, que parou o trânsito por mais de 3 horas e “eu até conheço alguém que levou imenso tempo a chegar a casa nesse dia e tinha a mulher prestes a dar a luz!”

É que o mais maravilhoso acerca dos boatos é o facto de eles nunca serem culpa de ninguém! Inúmeras versões acerca de uma mesma história, circulam livremente no espaço e no tempo, entretendo os desocupados e gerando polémica nos meios de conversa por onde anda. E há sempre alguém que sabe mais qualquer coisa, ou que ouviu mais qualquer coisa e jura por Deus e Nossa Senhora que viu e que está a dizer a verdade.

Um boato nunca é absolutamente verdade. Mas também nunca é absolutamente mentira…
O mais triste é que, regra geral, para quem o recebe e repassa, isto não interessa absolutamente nada!