Poucos temas no mundo actual são tão polémicos quanto este. Domínios da religião, da moral e da ética, das ciências médicas, da política e até da economia, envolvem-se e defendem as suas posições, tão controversas quanto complexas.

Há muito que se discute este tema. Que se debate, que se luta por uma espécie de “solução unânime” e que agrade a todos. Mas como o aborto é daquelas coisas que pairam num universo cujos extremos são “ou é ou não é aceitável de fazer”, existe muita dificuldade em encontrar um meio-termo.

Então e porque resolvi eu escrever sobre o aborto?

A 1 de Março, a organização polaca contra o aborto “Fundacja Pro”, expôs um outdoor de 23,5 m x 10 mm com a imagem de Adolf Hitler (ele mesmo!) e fetos abortados, onde se pode ler a frase: “O aborto na Polónia foi introduzido por Hitler a 9 de Março de 1943".


A responsável pela campanha explica que o objectivo é “lembrar aos polacos que o aborto foi introduzido no país durante a Segunda Guerra Mundial, quando a Polónia foi ocupada pelo regime de Hitler, para controlar o crescimento da população local que os nazis consideravam inferior.”

A polémica está gerada. Independentemente do facto contido na frase ter uma base histórica sólida, a referência a Hitler não foi bem recebida pelos polacos. Toca num ponto extremamente sensível na sua história e consideram o recurso a essas memórias como “inaceitável”.

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Compreendo os polacos e confesso-me chocada com esta campanha. Não concordo com extremismos, não é uma questão de alienar o mundo, retirando-lhe os valores, mas defender um ponto de vista servindo-se de violência e força bruta, seja ela física, verbal ou ideológica, não me parece a melhor forma de atrair concordantes. Afinal o facto de Hitler ter-se servido do aborto para expandir os seus ideais de soberania racial, é utilizado como argumento por correntes contra o aborto. Coloquialmente falando, basicamente que é a favor do aborto, é nazista, é Hitler.

Não tenho uma posição preta ou branca sobre o aborto. Há coisas que não consigo compreender em ambas as posições. Uma delas é o facto da mulher não poder ter o direito de decidir sobre a sua vida e sobre a vida do ser que carrega dentro de si, quando este já atingiu um estágio de desenvolvimento em que já pode ser considerado como “ser-vivo”, quando, voltando um pouco atrás nesse mesmo processo de desenvolvimento, ela teve o direito de evitar este mesmo processo através de outros meios.

Falando de extremos, qual exactamente a diferença entre uma mulher que decide não ser mãe e uma que aborta? Se a questão é não impedir a vida, e em última análise, o “assassínio” (Deus, como detesto aplicar esta palavra neste caso!), uma mulher que decide não contribuir para a continuidade da espécie, comete o mesmo crime. Crescei-vos e multiplicai-vos. Não é isso que diz a Bíblia?

Creio em Deus. Tenho valores. Compreendo de filosofia, religião, política, economia e blablabla, o suficiente para compreender as suas posições do seu ponto de vista ideológico. Mas sou sobretudo racional. E, neste aspecto, enquadro-me mais nos argumentos científicos. E enquanto não me forem apresentadas razões e argumentos coerentes entre si sobre este tema, continuarei sem uma posição claramente definida relativamente ao aborto.

Só uma coisa para mim é clara: O respeito. O que diz que o seu direito acaba quando começa o do outro.

Há muito o que reflectir e explorar nesse tema... mas já é quase hora do almoço. :-)