
Vou escrever sobre a amizade. Ou então este blog não seria meu. Acredito na amizade como uma força suprema. Acredito na amizade como sinónimo de companheirismo, soliedariedade, compreensão, entre-ajuda e amor. A amizade é o primeiro e o último dos sentimentos. É como a esperança, nasce sem grande explicação e é a última a morrer. E quando já não há amizade onde outrora houve, já não há mais nada entre aquelas pessoas.
Um amigo uma vez disse que a amizade é o sentimento original, é a espinha dorsal a partir de onde nascem todos os outros sentimentos. Não poderia concordar mais. A conversa era sobre as diferentes "hierarquias" nos relacionamentos. Há os amigos coloridos, os namorados, os noivos, os casados... foi quando surgiu esta conclusão, a de que todos estes "rótulos" partiam de um mesmo pressuposto: o da amizade; que o amor não nasce sem amizade, não perdura sem amizade e que inevitavelmente morre quando também morre a amizade. Faz sentido.
Pelas nossas vidas passam milhares de pessoas. Entre conhecidos e amigos, amores e aventuras, há os que se dão um pouco mais ao trabalho e aproximam-se mais. Entranham-se nas nossas vidas, na nossa rotina, fazem parte do presente, do passado e do futuro. E quando damos por nós, tornam-se indispensáveis e até os mais simples encontros de café não são a mesma coisa sem eles. São aquelas pessoas que ao olharem-nos nos olhos leem-nos a alma, que podemos ficar anos sem nos vermos, mas quando estivermos juntos irá parecer que foi ontem que nos vimos pela última vez. Não nos guardam rancor por nada, perdoam as nossas falhas e fraquezas quase que instantaneamente, nunca se esquecem do nosso aniversário e passam a madrugada inteira na conversa connosco . Sabem todos os nossos segredos, passamos a ser quem somos graças a elas, uma parte de nós pertences-lhes. A estas pessoas aprendemos a dar valor como se de uma autêntica preciosidade se tratasse (e na verdade, é!), aprendemos a respeitar, a ouvir, a tolerar, a compreender, e nada disso nos custa. Não lhes dizemos mal, não lhes desejamos mal. E quando coisas boas lhes acontecem, sentimo-nos como se tivesse sido connosco.
São raras estas pessoas. E difíceis de encontrar. E toda gente quer pessoas por perto que sejam assim para nós. Quando as temos connosco, não queremos perder. Mas o mundo é um lugar estranho e as pessoas por vezes deixam-se levar... e perdem-se de nós e por mais que tentemos impedir, elas vão-se embora. E a amizade, como delicada que é, morre. E já não há palavras, as ditas ou ouvidas, já não há qualquer consideração. E resta um vazio repleto de pontos de interrogação.
A amizade morreu. Anunciem na coluna de óbitos do jornal. E aproveitem o espaço para anunciar também que morreu uma importante parte de cada um.
